Minha resenha de Star Wars Episódio VIII Os Últimos Jedi™ (ou: não leve crianças que você não consegue ou não quer controlar ao cinema)
Apesar de meu pessimismo e pensar que criar vida senciente num
universo onde todos os seres sencientes sofrem e morrem ser um problema ético
ou moral, geralmente não tenho nada contra crianças. Gosto dos sobrinhos
postiços que tive, já ajudei a tomar conta, brinquei, etc. Geralmente não sou
um adulto rabugento.
No entanto, no último fim de semana deste ano, finalmente assisti
ao mais recente produto (é o que Star Wars sempre foi, muito embora
existisse um charme na franquia entre 1977 e 1983 que praticamente não existe
mais) cinematográfico da Disney, e fui obrigado a ver pelo menos um terço do
filme, se não mais, com duas crianças de pouca idade correndo, brincando e falando
alto pela sala de cinema, algo claramente permitido pelos pais que estavam ali
presentes.
Foi falta de respeito comigo e com todas as pessoas que compraram
o ingresso. Por diversas vezes pensei em sair da sala e reclamar com alguém
responsável, mas como meu clima há muito tempo tem sido de desistência, e como
já não estava tão investido assim na história do filme (digo, do produto),
preferi permanecer sentado. Pior: até onde pude observar, somente eu e minha
companheira estávamos incomodados com a situação.
Após o término do filme, conversamos a respeito e chegamos ao
consenso de que provavelmente as outras pessoas não se importaram tanto, pois no
mundo em que vivemos só um desalmado iria reclamar da presença de crianças. Os
anormais éramos eu e minha companheira, por acharmos ruim duas crianças correndo
e falando alto no meio do filme — o menino ainda tinha tênis que piscava
vermelho, causando uma distração ainda maior, já que ambos correram e brincaram
perto da tela boa parte do tempo.
Como falei, meu default não
é detestar crianças. Para ser sincero, meu maior sentimento é o de pena,
especialmente quando elas ainda não são cruéis umas com as outras. Tenho dó das
ingênuas, pois elas sofrerão bastante com o passar dos anos e tornar-se-ão
cruéis como forma de reação ao mundo — quer dizer, o mundo eventualmente
demandará que até as crianças ingênuas e inocentes se tornem babacas, como todos nós somos (perdão, mas não tem um inocente aqui, seja eu escrevendo estas palavras ou você lendo). Mas,
tendo dito isso, a presença daquelas crianças ali foi sim bastante irritante. Não
as culpo. A culpa é dos pais. Clichê dizer isso, mas é verdadeiro. A culpa é
dos pais, sim.
Quando o filme acabou e as luzes se acenderam, olhei para a cara
daqueles adultos. Pensei comigo mesmo: eles certamente devem ficar horrorizados
com notícias de alunos batendo em professores (isso se é que eles leem jornal ou assistem ao noticiário). Pois bem: os culpados de barbaridades como essas são vocês. Nós vivemos
em sociedade. Nossa liberdade termina quando começam os direitos dos outros.
Não existe isso de “criação livre”. Crianças, mesmo sendo coitadas e inocentes,
são os seres mais egoístas da biosfera. Quando quem as cria não sabe impor
limites, merdas acabam acontecendo — merdas como alunos que acham que podem
bater em professores, já que crescem acreditando que são livres para
fazer o que quiserem e que tem o direito de demandar o que quiserem. Pelo visto, a intenção dos pais ali passava longe da ideia de limite.
Limite? Não, a intenção daqueles pais era mostrar que os pequenos
príncipes deles tinham total controle da situação. As crianças eram os chefes. Elas
merecem tudo o que quiserem, porque papai e mamãe as amam tanto (só não as
amaram o suficiente para não as trazer à uma existência onde elas vão sofrer, onde
serão machucadas por outras pessoas, pela natureza e pelo acaso — além de que elas
também vão machucar outras pessoas — e, finalmente, morrerão).
Quanto ao filme-produto, não achei ruim. Apesar de gostar bastante
dos originais (Guerra nas Estrelas, Império Contra-Ataca e Retorno de Jedi —
sem “episódio”, “Nova Esperança”, etc), não sou nem fanboy nem hater da
franquia Star Wars, então estou pouco me lixando e não me vejo obrigado a amar o
filme ou detestá-lo. Achei ele mediano — o que, para o fanboy, significa o
mesmo que detestar, mas garanto que não é o caso.
Tiveram coisas que considerei positivas, mas que acabaram não
sendo muito exploradas no filme e isso me deixou decepcionado. Não vou dar
spoilers, estou sem paciência e sem tempo. Achei a história truncada, com
sub-tramas que se comunicavam mal umas com as outras e que deixaram a desejar. Apesar de ter gostado dos
personagens e dos atores que os representaram, personagens bons e atuações boas em tramas e
sub-tramas ruins ou medianas não salvam uma história. No final das contas, não gostei tanto assim, mas também não detestei.